Pais de criança bilíngues
precisam ter em mente duas coisas o tempo todo.
1. Seu
filho é bilíngue.
2. Seu
filho ainda tem (X) anos.
Pode parecer algo trivial, mas às
vezes não é. Vou usar um exemplo para explicar as ponderações.
A Yuna está com 3 anos, e fala
muito. E quando eu digo muito, é muito mesmo. Rs.
Quanto mais ela fala, mais
conseguimos perceber alguns vícios de linguagem e alguns problemas de
pronúncia. Ela costuma trocar o ‘f’ pelo ‘p’ e o ‘v’ pelo ‘b’. O resultado fica
assim: “Eu tô peliz com bocê.” Ela
costuma falar isso de vez em quando. Em outros casos, ela pergunta se estamos ‘pelizes’
com ela. Aqui, é uma forma de perguntar se ela está se comportando bem.
Eu, porém, percebi isso primeiro
em inglês em frases como “ip Biam (William) hits me, I bill
cry”. Por um momento, fiquei preocupado. Será que eu, como não-nativo,
estava ensinando ela a falar errado? Será que ela não seria realmente bilíngue?
Será que ela falaria errado pra sempre?
Esses questionamentos não duraram
muito. Eu vi que isso estava acontecendo nas duas línguas. Eu me lembrei dos
meus sobrinhos monolíngues. Um deles ficou um bom tempo falando “Ramos
(vamos) pra casa” e “Carralo
(cavalo)”. Hoje, ele fala muito bem.
Então, decidi ampliar meus
conhecimentos e pesquisar sobre a evolução na pronuncia das vogais, consoantes
e diferentes fonemas, em português e em inglês. O resultado foi o seguinte:
existem alguns fonemas que são mais complexos, pois sua pronuncia requer
movimentos mais finos. E, como em tudo mais, cada criança tem seu ritmo.
Para servir como guia para pais
na mesma situação, segue uma breve lista:
Antes dos 4 anos, não se fala em “erro de pronuncia”.
Uma criança está dentro dos
padrões se ela conseguir pronunciar bem as seguintes consoantes até os 4 anos: P, B, M, N (e W em
inglês).
Até os 5 anos, ela deve conseguir usar as seguintes letras: m, p, b, g, t, d, n.
E, em inglês, acrescente: h, w, k, ng, y.
Apenas aos 6 anos, espera-se uma boa dicção das letras: f, v, ch.
Em inglês, ainda existem as
combinações: th, sh, zh.
Por fim, apenas pode-se cogitar
que algo esteja errado, caso a criança, depois dos 7 anos, não consiga pronunciar a lista acima, e diferenciar: s-z, r-rr.
E, em inglês, as terminações
mudas th, ch, wh e o g curto.
As consoantes que estão fora
dessa lista costumam não dar problemas e são aprendidas ainda cedo como d, c, l. Essas costumam aparecer na
fase pré-verbal, onde o neném as repete infinitamente: da-dá, ca-cá, lá-lá-lá-lá-lá...
Essa comparação acima foi feita
usando como base estudos de crianças monolíngues em português e em inglês. Isso
significa que mesmo crianças americanas não terão uma pronuncia perfeita até os
sete anos de idade.
Sendo assim, se o seu filho
bilíngue ainda não tem a pronúncia perfeita e sem sotaque que os outros cobram
de você, saiba que o motivo é a idade dele e não o bilinguismo. Se, por outro
lado, ele está muito adiantado nessa lista, e consegue pronunciar o th e o f antes dos 5 anos, também não há razão para se preocupar (ou para taxa-lo
de gênio – ainda que esse seja o instinto de todos os pais).
No final, a pronúncia e a dicção
se desenvolvem na criança no tempo individual dela. Algumas crianças andam com
8 meses, outras com quase 2 anos. Algumas são desfraldadas com 1 ano, outras
depois dos 5. E, da mesma forma, algumas crianças falam o v, f, th, ch com 2 anos e outras com 7.
O importante é respeitar o tempo
do seu filho e não pressioná-lo. Nunca
corrija os erros dele. Você pode, sim, mostrar
a forma correta. Por exemplo:
“Olha, uma plor amarela!”
ERRADO: “Não, filho. Não é PLOR, o certo é FLOR.”
CERTO: “Isso mesmo, filho. Que FLOR linda!”
Perceba que o raciocínio é o
mesmo do bilinguismo. Vamos ver em outra situação.
“Olha, mamãe, uma plower
amarela.”
ERRADO 1: “Não, filho. FLOWER é em inglês. Comigo você precisa falar FLOR, em português.”
ERRADO 2: “Isso mesmo, filho. Que FLOWER linda!”
CERTO 1: “Isso mesmo, filho. Que FLOR linda!”
CERTO 2: “That’s
right, my son. What a pretty FLOWER!”
Espero ter ajudado e aliviado
algumas preocupações.
Um grande abraço,
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