O tema abordado não é simples.
Apesar do título da postagem, o texto vai falar sobre como escolher uma escola,
seja ela bilíngue ou não. Não pretendo esgotar o tema, e sim dar algumas linhas
gerais.
Ao escolher uma escola, a família
deve levar em conta alguns fatores:
1. Equipe: aqui, a verificação deve ir além de títulos e certificados,
é interessante observar o comportamento da equipe com as crianças e o das
crianças com a equipe. Crianças que nutrem carinho pelos professores são um
ótimo indicativo.
2. Instalações: esse quesito diz respeito à segurança e ao conforto.
Para crianças pequenas, verifique se as tomadas estão cobertas, se a escada é
de fácil acesso, e se existem outros perigos para os pequenos. Para os maiores,
salas de aulas e laboratórios são um bom local para começar. Aviso que os
pequenos vão julgar a escola apenas pelo parquinho, enquanto os maiores o farão
pela quadra de futebol.
3. Turmas: Verifique o número de alunos por turma. Isso é especialmente
válido para crianças menores, pois um maior número de crianças significa menos
atenção para seu filho e mais chance dele ficar constantemente doente.
4. Rotina: Verifique se a rotina da escola se adequa à sua (horários)
e se você concorda com aquela rotina. Cuidado para não esgotar seu filho com
uma rotina muito puxada.
5. Linha pedagógica: Crianças de 5 anos treinando para o vestibular ou
intensivão bicho-grilo? Veja qual é a preocupação da escola em relação aos
objetivos de ensino. Existem escolas mais focadas em preparar o aluno para o
mercado de trabalho, enquanto outras o preparam para a vida. Idealmente, sugiro
procurar uma que pense em ambos. (Lembrando que o que vale é a prática, pois o
discurso costuma ser sempre parecido)
6. Custo: É importante que a escola caiba confortavelmente no orçamento
familiar. Essa escolha, como todas que envolvem dinheiro, deve ser feita de
forma responsável.
7. Localização: A localização da escola deve ser levada em conta, mas
não acredito que deva ser o principal diferencial na hora de escolher.
8. Indicação/recomendação: Busque opiniões de quem já matriculou seus
filhos nesta escola.
Mas como escolher a escola
bilíngue para o seu filho?
Primeiro, vemos analisar as
possibilidades:
1. Escolas Bilíngues: Currículo dividido entre os idiomas. Ano letivo
brasileiro.
Prós: dão à criança um bom panorama das
duas culturas.
Contras: muitas escolas bilíngues
possuem equipes fracas (cuidado com esse ponto).
Preço: $$$
2. Escolas internacionais: Currículo similar ao do país de origem da
escola. Ano letivo americano (início em agosto).
Prós: possuem boa infraestrutura e
profissionais bem qualificados. Emitem diploma do país de origem (ou duplo).
Contras: Podem negligenciar a realidade
brasileira (vestibular).
Preço: $$$$$
3. Escolas tradicionais: Currículo
brasileiro. Ano letivo brasileiro.
Prós: professores qualificados e boa
infraestrutura. As melhores oferecem sistema High School (diploma duplo)
Contras: O inglês é objeto do ensino,
não instrumento.
Preço: $ - $$$
4. Escolas Onlines Internacionais:
Currículo do país de origem. Ano letivo internacional.
Prós: professores qualificados. Diploma
do país de origem.
Contras: Aulas apenas virtuais.
Preço: $$-$$$$
5. Homeschooling: Prática não
regulamentada no Brasil. Pode ser usada apenas de forma complementar.
Prós: o pai e/ou a mãe são os
instrutores, isso reforça vínculos familiares.
Contras: Exige tempo e dedicação do
aluno e dos pais.
Preço: Grátis - $
(Nota: apesar de
não regulada, existem posições importantes defendendo esse direito. Por
exemplo, a tese do Ministro do STJ. Disponível em http://bdjur.stj.jus.br/xmlui/bitstream/handle/2011/260/Aspectos_Constitucionais_e_Infraconstitucionais.pdf
)
Aqui, vemos claramente um
trade-off, uma troca. As escolas internacionais costumam ser grandes e com uma
infraestrutura excelente, mas custam fortunas. Escolas bilíngues adicionam o
inglês e cobram bastante por isso. Uma escola bilíngue com uma infraestrutura
regular chega a cobrar R$ 1,5 mil por mês (idade – 4 anos). Pelo mesmo valor,
os pais podem escolher praticamente qualquer escola tradicional.
Cabe aos pais ponderar o quanto
de importância eles querem dar a cada idioma. Uma família que planeja mudar de
país pode achar mais fácil escolher uma escola internacional. Uma família que
pensa em permanecer no Brasil pode escolher uma escola tradicional.
Usar escolas online é uma boa
opção para complementar os estudos da criança que cursa uma escola tradicional.
O aluno faria meio período na escola tradicional e meio período cursando a
escola virtual. Recomendo o site http://www.onlineschools.org
para se informar sobre o assunto. Os custos variam de $ 2 a 12 mil dólares por
ano (R$ 400 a 2 mil reais por mês).
Julgando esses fatores, aliados
com os itens elencados acima, os pais podem chegar a uma decisão com uma
certeza maior. Se a família não possui condições de colocar seus filhos em uma
escola internacional, mas prezam mais pela infraestrutura e tradição do que para
o segundo idioma, pode escolher com segurança uma escola tradicional. Se o
aspecto linguístico é o principal a ser ponderado, talvez valha a pena visitar
algumas escolas bilíngues.
Para ajudar os leitores, vou compartilhar
nossa decisão.
Como criamos nossos filhos no
sistema OPOL, eles já são bilíngues dentro de casa. Não fazemos questão de que
seja a escola que os alfabetizem em inglês. Por conta disso, escolhemos uma
escola tradicional com uma boa infraestrutura, relativamente próxima de nossa
casa. Manteremos o inglês em casa, e iremos analisar a situação conforme eles
forem crescendo.
Em nenhum dos estados que moramos
(SP e DF), encontramos escolas bilíngues com boa infraestrutura (próximas de
casa). No geral, são sobradinhos adaptados. Algumas (as mais caras) possuem uma
área um pouco maior, mas ainda assim são pequenas para a quantidade de alunos.
Em relação à questão levantada (“Escolhendo a melhor escola bilíngue”), é
importante:
1. Ouvir
a equipe usando o segundo idioma para ver o grau de proficiência na língua
(certificados como TOEFL e Cambridge não substituem o olhar dos pais). Os pais
poderão perceber se aquele profissional está confortável no idioma, isso é, se
ele soa natural ao usá-lo.
2. Tentar
ouvir as crianças usando a segunda língua. Afinal, elas são a prova de sucesso
ou insucesso da escola. O ideal seria andar pelos corredores da escola ouvindo
diferentes crianças para evitar que a diretora, por coincidência, lhe apresente
para a filha do cônsul americano. Obviamente, a ideia aqui não é inquerir os
alunos (coisa que os incomodaria e que nenhum pai gostaria que fosse feita aos
seus filhos na escola), e sim, ter uma abordagem de observador.
3. Analisar
a comunicação da escola. Escolas bilíngues costumam ter sites, folders,
cartazes no idioma minoritário. Julgue-os para auferir a seriedade da escola.
[Visitamos uma escola em São Paulo que tinha uma placa de Sleepy’s Room (quarto do Sleepy) ao invés de Sleeping Room (quarto de dormir)].
4. Cuidado
com mistura de línguas. Misturar duas línguas é uma técnica não indicada pelos
linguistas. Infelizmente, muitas escolas fazem isso. Isso serve para dar aos
pais a impressão de que a criança está ‘virando bilíngue’. Explico. Se todos os
dias, a professora diz “é hora do snack”
ou “quem quer um pouco de juice?”.
Com o passar do tempo, a criança irá aprender essas duas palavras, e,
dependendo da idade, irá usá-las com os adultos em casa. Porém, uma criança que
fala “mãe, eu quero um juice” não é
necessariamente bilíngue, ela pode conhecer apenas essa palavra em inglês da
frase toda.
O acompanhamento deve seguir
mesmo depois da escolha. Passados alguns meses, a criança, se não era bilíngue
ao entrar na escola, já deve entender/falar algumas palavras. Cuidado para não
tentar ‘exibir’ as novas habilidades linguísticas de seu filho, pois isso pode
ter o efeito inverso. Ele pode ver o idioma minoritário como algo ‘diferente’,
e crianças possuem uma vontade natural de pertencer/ser igual aos demais. Se a
criança já era bilíngue, pouca ou nenhuma mudança deve ser observada em seu
comportamento em casa. Lembrando que crianças bilíngues alternam entre os
idiomas e que pode existir um idioma preferido de acordo com a idade e
realidade da criança. Vou dar um exemplo: uma criança bilíngue que entre em uma
escola onde apenas o inglês seja utilizado (pelos professores) ainda pode
começar a falar mais o português pelo simples motivo de que as demais crianças
da sala não eram bilíngues antes de entrar na escola, e, por isso, usam mais o
português. Nesse caso, o desejo por pertencer e a convivência com os demais
alunos podem levar a criança a usar mais o português.
Espero ter ajudado nessa hora tão
difícil.
Um grande abraço!