terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Problemas com Pronúncias?

Pais de criança bilíngues precisam ter em mente duas coisas o tempo todo.
1. Seu filho é bilíngue.
2. Seu filho ainda tem (X) anos.

Pode parecer algo trivial, mas às vezes não é. Vou usar um exemplo para explicar as ponderações.

A Yuna está com 3 anos, e fala muito. E quando eu digo muito, é muito mesmo. Rs.

Quanto mais ela fala, mais conseguimos perceber alguns vícios de linguagem e alguns problemas de pronúncia. Ela costuma trocar o ‘f’ pelo ‘p’ e o ‘v’ pelo ‘b’. O resultado fica assim: “Eu tô peliz com bocê.” Ela costuma falar isso de vez em quando. Em outros casos, ela pergunta se estamos ‘pelizes’ com ela. Aqui, é uma forma de perguntar se ela está se comportando bem.

Eu, porém, percebi isso primeiro em inglês em frases como “ip Biam (William) hits me, I bill cry”. Por um momento, fiquei preocupado. Será que eu, como não-nativo, estava ensinando ela a falar errado? Será que ela não seria realmente bilíngue? Será que ela falaria errado pra sempre?

Esses questionamentos não duraram muito. Eu vi que isso estava acontecendo nas duas línguas. Eu me lembrei dos meus sobrinhos monolíngues. Um deles ficou um bom tempo falando “Ramos (vamos) pra casa” eCarralo (cavalo)”. Hoje, ele fala muito bem.

Então, decidi ampliar meus conhecimentos e pesquisar sobre a evolução na pronuncia das vogais, consoantes e diferentes fonemas, em português e em inglês. O resultado foi o seguinte: existem alguns fonemas que são mais complexos, pois sua pronuncia requer movimentos mais finos. E, como em tudo mais, cada criança tem seu ritmo.

Para servir como guia para pais na mesma situação, segue uma breve lista:

Antes dos 4 anos, não se fala em “erro de pronuncia”.

Uma criança está dentro dos padrões se ela conseguir pronunciar bem as seguintes consoantes até os 4 anos: P, B, M, N (e W em inglês).

Até os 5 anos, ela deve conseguir usar as seguintes letras: m, p, b, g, t, d, n.
E, em inglês, acrescente: h, w, k, ng, y.

Apenas aos 6 anos, espera-se uma boa dicção das letras: f, v, ch.
Em inglês, ainda existem as combinações: th, sh, zh.

Por fim, apenas pode-se cogitar que algo esteja errado, caso a criança, depois dos 7 anos, não consiga pronunciar a lista acima, e diferenciar: s-z, r-rr.
E, em inglês, as terminações mudas th, ch, wh e o g curto.

As consoantes que estão fora dessa lista costumam não dar problemas e são aprendidas ainda cedo como d, c, l. Essas costumam aparecer na fase pré-verbal, onde o neném as repete infinitamente: da-dá, ca-cá, lá-lá-lá-lá-lá...

Essa comparação acima foi feita usando como base estudos de crianças monolíngues em português e em inglês. Isso significa que mesmo crianças americanas não terão uma pronuncia perfeita até os sete anos de idade.
Sendo assim, se o seu filho bilíngue ainda não tem a pronúncia perfeita e sem sotaque que os outros cobram de você, saiba que o motivo é a idade dele e não o bilinguismo. Se, por outro lado, ele está muito adiantado nessa lista, e consegue pronunciar o th e o f antes dos 5 anos, também não há razão para se preocupar (ou para taxa-lo de gênio – ainda que esse seja o instinto de todos os pais).

No final, a pronúncia e a dicção se desenvolvem na criança no tempo individual dela. Algumas crianças andam com 8 meses, outras com quase 2 anos. Algumas são desfraldadas com 1 ano, outras depois dos 5. E, da mesma forma, algumas crianças falam o v, f, th, ch com 2 anos e outras com 7.

O importante é respeitar o tempo do seu filho e não pressioná-lo. Nunca corrija os erros dele. Você pode, sim, mostrar a forma correta. Por exemplo:

Olha, uma plor amarela!”

ERRADO: “Não, filho. Não é PLOR, o certo é FLOR.”
CERTO: “Isso mesmo, filho. Que FLOR linda!”

Perceba que o raciocínio é o mesmo do bilinguismo. Vamos ver em outra situação.

Olha, mamãe, uma plower amarela.”

ERRADO 1: “Não, filho. FLOWER é em inglês. Comigo você precisa falar FLOR, em português.”
ERRADO 2: “Isso mesmo, filho. Que FLOWER linda!”

CERTO 1: “Isso mesmo, filho. Que FLOR linda!”
CERTO 2: “That’s right, my son. What a pretty FLOWER!”

Espero ter ajudado e aliviado algumas preocupações.

Um grande abraço,


quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Um tanto quanto "of-perente"

Existem palavras que só pais de crianças bilíngues conhecem.
Hoje, vou apresentar três pérolas que a Yuna soltou:

"Daddy, it's not come-outting."

"Mamãe, eu também quero smellar." (cheirar + smell)

Mas, a mais engraçada demorou para que nós compreendêssemos.

"Of perente"

Quebramos a cabeça tentando entender o que seria isso. Pelo contexto, vimos que ela queria dizer "different". Mas de onde havia surgido essa construção?! rsrs

Um dia, percebi que ela faz uma leve pausa ao falar diferente. Ela fala "di-perente".
Nós somos paulistas, então pronunciamos o 'e' como 'i' em muitas palavras.
Nós falamos "verdadi" no lugar de "verdade". "Telefoni" no lugar de "telefone".
E falamos "di" no lugar de "de".
Então, nós falamos "Eu ti amo di verdadi."

Aí entendemos! Ela achou que diferente era igual a "di ferente", ou seja, "de ferente", como se "ferente" fosse um adjetivo como "de verdade" ou "de mentira".
Ela então traduziu o "de" para "of", e manteve o resto da palavra intacta.

Devo dizer que o resultado ficou lindo, fofo e super "OF-PERENTE".

E vocês, já precisaram virar verdadeiros Sherlocks para desvendar a lógica usada pelos seus pequenos?


terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Blog

Inauguro esse espaço para passar um pouco o dia-a-dia de como está sendo essa nova aventura de criar filhos bilíngues. Basicamente, este espaço será destinado a pérolas, dicas, curiosidades e relatos pessoais.
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