quinta-feira, 12 de junho de 2014

Relato: A Longa Ausência

Antes de iniciar o relato, preciso contar um pouco do que aconteceu.

Nós morávamos em São Paulo-SP, onde eu atuava como consultor de Comunicação Corporativa (Branding) e de Comércio Internacional (COMEX) [Não errei a digitação, sei que as duas atividades não são muito correlatas, mas era o que eu fazia rs].

No início de 2014, comecei a atuar na Controladoria da Presidência da República (CGU) em Brasília-DF. Para efetuar tal mudança, precisei vir antes para Brasília para organizar a mudança, escolher moradia, etc. enquanto trabalhava.

Já sabíamos que a mudança só iria acontecer dois meses depois da minha partida.

Além de toda a ansiedade causada pela mudança (pois nunca havia morado em nenhum outro Estado), e de todo o peso no peito por ficar longe das crianças numa fase onde perder um mês significa perder diversos marcos de desenvolvimento, eventualmente nos demos conta de que, se mantivéssemos o sistema OPOL (eu inglês e a Patty português), eles ficariam dois meses sem contato com o inglês. 
[Mais sobre os métodos para se criar um filho bilíngue nesse post.] 

Por conta disso, começamos a pensar em formas de contornar a situação. As crianças já assistiam TV apenas em inglês, então não mudamos isso. Mas sabemos que o contato humano transmite vocabulário muito melhor do que um programa de TV. Isso ocorre, pois a criança atua de forma passiva com a televisão, não podendo interagir com a mesma. Ainda que alguns programas incentivem algum nível de interação (Mickey Mouse Club-House e Pocoyo, por exemplo), a criança não recebe uma reação genuína à sua ação. Quando ela interage com um adulto, ela recebe uma reação genuína e imediata para tudo que fala. Se ela fala algo incompreensível, recebe uma cara de interrogação, o que vai fazê-la reestruturar a frase, ou corrigir a pronuncia.

A saída que encontramos foi suspender temporariamente o OPOL. A Patty começou a fazer um sistema de divisão das línguas por horário. Do momento que eles acordavam, até depois do almoço, apenas o inglês era utilizado. Depois do almoço, até a hora de dormir, ela usava o português.

Evidentemente, eu ligava todos os dias de noite para falar com eles. Conseguimos, inclusive, fazer algumas vídeo-chamadas pra amenizar a saudade.

O resultado dessa ausência foi neutro (Linguisticamente falando, lógico, pois à parte emocional foi difícil. Até hoje ela ocasionalmente me pergunta se eu vou voltar ‘hoje’ quando saio pra trabalhar.).

Quando eu digo que foi neutro, é porque não verificamos nenhum atraso no vocabulário que ela já tinha. Não verificamos nenhuma dificuldade em compreender um ou outro idioma. E, principalmente, não houve nenhum tipo de antipatia por nenhuma das línguas.

Notamos, porém, que durante esse período (talvez devido ao contato mais frequente com a avó) ela passou a utilizar mais o português. Poucas semanas após meu retorno, a divisão voltou a ser equilibrada.

A situação foi facilitada por termos respeitado um sistema relativamente rígido ao longo da criação dela. Identificamos que o contato com o inglês era prejudicado pela localidade geográfica (Brasil), por isso, procuramos sempre oferecer outros tipos de exposição ao idioma, como livros, músicas e televisão.

Para a manutenção do segundo idioma na minha ausência, o fato de que minha esposa também é fluente em inglês, sem dúvida, auxiliou muito para essa conquista. Em situações similares, onde o pai viaja por muito tempo e a mãe não seja fluente naquele idioma (ou vice versa), é importantíssimo garantir um contato da criança com o idioma, seja com livros, filmes, músicas, parentes, playdates (grupos de brincadeira naquele idioma). Caso a mãe possua algum conhecimento no idioma, por mais básico que seja, sugiro que ela o utilize com a criança durante a ausência do pai (Por algumas horas por dia ou alguns dias na semana). Lembrando que “algum contato é melhor que nenhum contato”.


Um grande abraço!

PS.: Que belo começo de Copa do Mundo! 3x0! Vai Brasil!

PPS.: Essa foi depois do 7x1. ='/


sexta-feira, 6 de junho de 2014

É normal uma criança bilíngue conjugar verbos de forma errada ou misturada?

Pais de crianças bilíngues podem se preocupar quando seus filhos começam a conjugar verbos de forma errada ou até misturando regras gramaticais dos dois idiomas.

Mas confie em mim, isso é algo absolutamente normal e é um bom sinal!

Crianças monolíngues também conjugam verbos de forma incorreta, sejam elas monolíngues de Português, de Inglês ou qualquer outra língua. Gramática é algo complexo, que requer tempo para ser absorvido.

Crianças que já sabiam falar ‘went’ para fui, podem começar a falar ‘goed’ (go + ed). Isso é normal, e, como eu disse, é um bom sinal, pois mostra que a criança entendeu o conceito da terminação ‘ed’ e está começando a aplica-lo de forma experimental. Com o tempo, a criança entende que existem exceções para essa regra.

Em português as coisas são mais complicadas. Temos tantos tempos verbais e tantas pessoas para conjugar os verbos que as crianças demoram a acertar tudo. É normal crianças dizerem ‘eu comeu’, no lugar de ‘eu comi’. A Yuna outro dia parou de andar e me disse ‘eu pari’ no lugar de ‘eu parei’.  Eu fiquei super feliz com a capacidade dela de usar essa regra em um verbo novo, e morri de rir com o resultado. =D

Crianças bilíngues também costumam importar regras gramaticais de um idioma para o outro. Já presenciei isso diversas vezes em casa.

“Eu choosei esse.” [choosei = choose (escolher) + ei].

“Mommy already pented my hair.” [pented = pentear + ed].

Se o seu filho está conjugando errado, veja se crianças monolíngues da mesma idade também o fazem. Lembre-se que cada criança é única e que cada filho é um filho, por isso o desenvolvimento do primeiro pode ser mais rápido que o segundo filho, assim como o desenvolvimento de alguns coleguinhas pode ser mais rápido do que de outros. Então, o ideal é ver a média. Se seu filho estiver na média, ou próximo a ela, então está tudo bem.

Um apelo: não se preocupe com isso. Assim como a mistura de línguas, os erros de conjugação irão desaparecer antes que seu filho saia da infância e não comprometerão em nada o seu desenvolvimento. Erros de conjugação também não estão atrelados ao bilinguismo, e nada indica haver relação entre ambos.

Convido os leitores a compartilharem as conjugações ‘criadas’ por seus filhos aqui nos comentários!


Um grande abraço,


segunda-feira, 2 de junho de 2014

Breve Relato

Antes mesmo de qualquer coisa, peço desculpas aos meus leitores pela longa ausência.

A boa notícia é que agora as atualizações serão frequentes!

Vou fazer um breve relato de como tem sido nossa experiência:

Com a Yuna, nós estávamos começando no mundo prático do bilinguismo. Já com o William as coisas fluíram mais naturalmente.

A Yuna está com 2 anos e 9 meses, enquanto o Liam completou um ano. Devido à idade dele, não podemos esperar muita coisa ainda em se tratando de vocabulário, então focarei o post no desenvolvimento da Yuna.

Ela sempre aceitou muito bem o fato de termos dois idiomas falados em casa. Exatamente por termos começado cedo, essa é a única realidade que ela conhece. Durante o período de 1 ano até pouco depois de ela completar 2 anos, ela alternava entre os idiomas com qualquer pessoa. Isso gerou certa frustação nela quando pedia algo em inglês e a outra pessoa não a entendia. Nessas situações, eu sempre explicava o que ela havia dito para a outra pessoa, sem nunca corrigi-la.

Por exemplo, se ela falasse “Bobó, I want more juice please” eu dizia “Vovó, ela disse que quer mais suco, por favor”. Isso a mostrava que ela havia pedido certo, mas que a vovó não entendia aquele conjunto de palavras. Aos poucos, fomos notando que, apesar de ter mantido uma taxa de crescimento parecida no vocabulário de ambas as línguas, ela começou a usar, cada vez mais, o português com familiares e estranhos.

Hoje em dia, poucas vezes ela usa o idioma ‘errado’ para falar com alguém.

Notem que quando eu digo que ela disse em português, isso significa que a construção e a maioria das palavras eram em português. Eventualmente, ela ainda troca palavras entre os idiomas e conjuga verbos de forma misturada (‘choosei’ = choose [escolher] + ei [passado]).

Nessa fase, as construções começam a ficar cada vez mais complexas! E o curioso (e mais legal) é que algumas delas vêm ‘do nada’. Um belo dia, ela decide imitar uma frase que ouviu há quase um mês atrás e deixa todo mundo boquiaberto rsrs.

Outro dia, ela me oferece uma bolinha pula-pula e disse: “I cooked icecream for you. Liam can’t eat this one because he’s a little baby.

É nessa fase que o esforço do bilinguismo dá seus resultados mais evidentes (até agora). É nessa hora que temos que tomar cuidado para não minar o desenvolvimento de um idioma forçando a criança a usá-lo. Tratarei disso em post específico.


Um grande abraço!



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