quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Como e quando começar?

Uma das principais dúvidas sobre o assunto "criação bilíngue" é como fazer para começar, e qual a idade certa para isso.

Vamos começar pela mais fácil:

Quando começar?



A resposta padrão para essa pergunta é: Agora!
Se você já definiu o sistema que irá utilizar, pode começar desde já.
Mesmo que o seu filho ainda seja pequeno, não fale, ou nem tenha saído da barriga ainda, pode começar agora!



Eu comecei a usar o OPOL com a minha filha quando ela tinha 4 meses de vida. Simplesmente, da noite pro dia, passei a falar com ela em inglês. Eu não fiz isso antes pois estava buscando mais informações sobre o assunto, e quando estava com tudo definido, comecei!
Nosso segundo filho ainda está na barriga, e já usamos o sistema OPOL com ele.



Referências científicas:

Alguns estudos mostraram que a criança ao nascer já reconhece o idioma de sua mãe. Isso se deve ao fato de ela ter ouvido esse idioma durante todo o seu tempo no útero materno. O estudo foi assim: colocaram em recém nascidos chupetas que mediam a intensidade e a frequência com que o bebê chupava a chupeta. Houve uma diferença nítida entre um neném ouvindo o seu idioma materno e um ouvindo um novo idioma.
Um estudo similar mostrou que os nenéns também respondem a sons novos, como vogais que não existem na sua língua pátria.
Isso mostra que, desde o útero, os bebês já estão prestando atenção ao idioma que os rodeiam.



Minhas opiniões:

Ainda que os estudos mostrem isso, é difícil crer que falar com a criança em outro idioma desde antes do nascimento possa ter grandes diferenças com o resultado que seria obtido caso o mesmo fosse feito apenas quando a criança completasse um ano.


Um fato é que as crianças gostam de rotina. A previsibilidade da rotina é algo que ajuda muito no desenvolvimento das crianças. Por isso, quanto mais cedo você implementar o sistema novo, menor será a resistência que você irá encontrar.


Para exemplificar: uso somente o inglês com a minha filha de 18 meses. Outro dia, por curiosidade, decidi chamar ela em português. Para minha surpresa, ela virou a cara pra mim, e ficou emburrada! rs Ela só veio até mim quando a chamei em inglês.

Isso apenas ilustra o que eu disse. É muito mais fácil introduzir um sistema desses enquanto a criança ainda é um bebê. Mas nada impede que esse sistema seja introduzido posteriormente. Em fóruns internacionais, já li relatos de pais que conseguiram introduzir o OPOL em crianças maiores de 8 anos! Obviamente, eles encontraram uma resistência enorme por parte das crianças. Mas com insistência e força de vontade, eles conseguiram.



Um outro ponto positivo de começar cedo é que você se acostuma com a ideia de usar um outro idioma com seu filho mais cedo. E tem um tempo maior pra desenferrujar. rsrs
Mesmo para pessoas que não pensam estar prontas para o 'desafio', começar quando a criança ainda é um bebê só traz benefícios. Um bebê requer um vocabulário muito pequeno, quando comparado a um toddler ou a uma criança maiorzinha. Então, você terá todo o tempo do crescimento dele para turbinar seu segundo idioma.


Agora, vamos a segunda, e mais complicada, questão:

Como começar?



Na verdade, para começar basta definir o sistema que sua família irá utilizar. E isso é o mais complicado.
Você pode ler o que eu já escrevi sobre os métodos aqui.


Para definir qual método utilizar, você precisa se fazer alguns questionamentos:

1. Qual o grau de imersão que eu quero dar ao meu filho em X (idioma 1)? E em Y (idioma 2)?


Responder a essa questão é fundamental para que a família defina qual método irá seguir. Uma família em um país onde o idioma falado não é o dos pais tende a escolher o ML@H (Minority Language At Home). Ao passo que um casal onde apenas um dos pais não fala a língua local tem maior tendência a optar pelo OPOL (One Parent, One Language).


Como esse blog tem como público-alvo pais não-nativos que desejam ensinar esse segundo idioma aos filhos, o questionamento toma outra forma. Transformar uma casa com pai e mãe brasileiros em um local onde apenas um outro idioma é falado pode ser uma tarefa complicada.
Casais cujo idioma nativo é o mesmo irão falar entre si nesse idioma. Mudar isso de uma hora pra outra pode ser uma tarefa impossível.



A saída mais comum é a utilização do OPOL, onde cada pai ensinará uma língua às crianças. Porém, outras derivações são bem-vindas. Os pais podem falar ambos no segundo idioma com a criança, e no idioma nativo entre si. Esta é uma derivação do ML@H.

Tudo isso dependerá do grau de imersão que os pais desejam aos filhos.

2. Você(s) está(ão) preparado(s) para deixar que outras pessoas ensinem o seu idioma nativo aos seus filhos?


Caso a resposta de um dos pais seja negativa, este preferirá ser o responsável pela transmissão do português. Caso os pais não se incomodem em deixar esta tarefa para outras pessoas, então o ML@H passa a ser uma opção.


Para ajudar, vou compartilhar como foi nossa escolha.
Eu queria para meus filhos uma imersão razoável no inglês, mas sem negligenciar o português. Sempre quis ser chamado de 'papai', não de 'daddy'. Então, um dos fatores que mais pesou na nossa escolha foi o peso que queríamos para cada idioma. Nós queríamos o português mais presente, pelo menos no começo. E como nossa filha passa o dia com a mãe, ela ficou responsável pelo ensino do português, e eu do inglês.
Hoje em dia, ela está com 18 meses e nós não percebemos nenhum grau de diferença na compreensão dela entre o inglês e o português. Mas, ela mesmo sabendo que eu sou o 'daddy' dela, ela me chama de 'papai'. =)


Responder a essas duas questões pode ajudar na definição do sistema a ser utilizado.


Sei que eu insisto bastante nessa tecla, mas lembre-se: não existe método perfeito. O que existe é o método perfeito para cada família.
É o caso, por exemplo, de uma mãe solteira. Ela pode usar o sistema ML@H, ensinando ao seu filho sua segunda língua e deixando a cargo de parentes e da escola ensinar o português. Ela poderia também criar um sistema próprio de línguas em sua casa. Alternando ela mesma entre os idiomas. Essa alternância pode ser por dia, por dia da semana, ou até por horário.
Neste caso, a fase na qual a criança irá misturar os idiomas pode ser um pouco maior do que a maioria. Mas mesmo assim, ela passará logo, e a criança será proficiente em ambas as línguas.


A dica então é: assim que você decidir qual abordagem tomará, e qual sistema irá seguir, com eventuais ajustes para que ele se adeque à sua família, já pode começar a colocá-lo em prática.
=)

4 comentários:

  1. Olá! Acabei de descobrir o seu Blog e estou achando muito interessante, mas tenho uma dúvida: como fica a disciplina da sua filha? (no caso de uma birra). A mãe disciplina em português e você em inglês também? Essa questão é bem importante pra mim. 😃 Obrigada!

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    1. Olá Bianca,

      Primeiramente, agradeço pelo comentário e fico feliz que tenha gostado do blog.

      Peço licença para te responder em um post, pois acho que escrevi demais para colocar aqui rsrs.

      Segue o link:
      http://criandofilhosbilingues.blogspot.com.br/2016/01/em-que-lingua-devo-disciplinar-meu-filho.html


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  2. Olá Marcelo, parabéns pelo blog! Minha questão é a seguinte: sou falante nativo do português e falo bem o inglês. Gostaria que meu filho fosse bilíngue, então quero começar a fala com ele em inglês. Mas como idioma não é só comunicação mas também afetividade, sinto falta de falar com ele em minha língua nativa. Por outro lado, acho que se eu ficar trocando toda hora de idioma, vou dificultar as coisas para ele. O que vc sugere? Posso criar horários de falar em inglês ou mesmo dias de falar em inglês? Abraço e parabéns novamente!

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    Respostas
    1. Prezado Mathias,

      Agradeço pela visita e pelo comentário.
      Peço desculpas pela demora em lhe responder.. Mudamos de estado e as coisas estavam corridas por aqui..

      Em relação à afetividade, te digo que usar o inglês não será um problema.
      No começo, talvez você se sinta um pouco estranho em falar com um bebê em um outro idioma, mas isso logo passa.
      Ao usar o inglês todos os dias, você vai apreendendo novas formas de usar o idioma, transmitindo carinho, afeto, seriedade ou intensividade de acordo com o tom e com as palavras que você escolher.
      Por fim, há algo a ser dito totalmente em sentido contrário. Quando você usa um outro idioma com seus filhos, isso se torna algo entre vocês. Assim, eles terão a sensação de que falam com todos os amiguinhos/primos/tios em português, mas "eu tenho uma língua só minha e do papai".
      Yuna e William hoje tem 5 e 7 anos, e sinto que termos um idioma "só nosso" é algo muito importante para eles.

      A depender de onde estamos, eles preferem pedir algo em inglês, por exemplo. A depender do que eu estou lhes dizendo, também prefiro usar o inglês por uma questão de privacidade.

      Conforme explico aqui no blog, quanto mais rígida for a separação de um pai / uma língua, menos a criança irá misturar os idiomas. Obviamente, cada criança tem um ritmo e algumas não misturam, mesmo em situações onde a divisão não é tão absoluta.
      Fazer uma divisão por horários ou por local também é interessante. Por exemplo, usar o inglês sempre em casa e o português na rua, ou, usar o inglês até o almoço e depois do almoço o português.
      Sugiro escolher algo que a criança desde pequena consiga identificar, como casa/fora, antes e depois do almoço/banho/escola.

      Essa regra não é inquebrável. O único 'problema' que costuma ocorrer quando a divisão não é tão firme é que a criança passa um tempo maior misturando as duas línguas.
      Ainda assim, na medida que a criança cresce, ela aprende qual idioma usar em cada contexto.

      Outro ponto que vale ser comentado é que as crianças não veem vantagens em aprender duas línguas. Ou seja, se sentirem que aprender apenas uma é uma possibilidade, há boas chances de que tentem usar apenas uma língua, tentando ocupar sua memória RAM com outras coisas rs.
      Isso é comum com crianças que, apesar de uma criação OPOL (um pai, uma língua), sabem que ambos compreendem uma das línguas.
      Isso iria resultar em uma criança que insistiria em responder, por exemplo, em português, mesmo quando o pai/mãe falasse em inglês.
      É importante dizer que isso não seria um problema, pois a fluência passiva (ouvir/entender) é o primeiro passo para a fluência ativa (falar).
      Então, caso isso aconteca, não será um fracasso ou algo assim, muito pelo contrário. Aprender a falar uma língua que você já entende é infinitamente mais fácil do que aprender a falar uma língua nova para você.

      Como todos os meus comentários, o texto aqui acabou ficando grande rs
      Se restar alguma dúvida ou inquietação, me avise =)

      Um grande abraço,

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